Friday, July 31, 2009

Aurora!

A curiosidade tomou conta de mim, quando conheci Aurora pela primeira vez, vamos chama-la de Aurora pelo simples facto de tornar esta historia mais interessante, as vezes quando mantemos o anonimato das nossas personagens, desejamos que ela continue viva nos corredores da nossa mente.

Foi numa viagem a beira do abismo, onde o vento segurava-me sem hesitar que compreendi que a morte não tinha voz!


Do outro lado apercebi-me de um rosto meio adormecido, meio a sonhar, analisei a cicatriz profunda do seu rosto e toquei de leve como quem evita a dor novamente.
Esta era a marca e a lembrança quando somos arrancados de nos e deixados a deriva num pedaço de terra e jogados como fantoches.


Aurora contou-me o momento em que num dia bonito de Sol, passeava pela praia de Inhambane com as suas tranças a escorrerem pela cintura, a sua voz miudinha era uma canção, penetrei no fundo do seu olhar, salpicando as lágrimas de melancolia num manuscrito amarrotado e já amarelo pelo tempo, escondi as mãos para não mostrar o quão estavam gastas e vazias pelo sofrimento de ouvir um pedaço da sua vida abandonada e arrancada sem o seu consentimento.
Aurora tinha ido passear, caminhou pelas dunas como quem sente a intensidade da vida, deixou marcas dos seus pés na areia para fazer lembrar a sua praia que um dia estivera ali!
Ao longe um grupo de pescadores, o céu de um azul e depois o silencio...
estas eram as últimas recordações que ficaram gravadas no álbum de sua vida...para trás ficara a doce recordação de uma infância amada, de um pai que cuidara de si, da sua casa feita de palhota onde sonhara imensas vezes com o seu casamento com Marlesio...
Hoje Aurora reconhece que fora violada, tal a marca deixada em seu rosto desfigurado e apagado, levada para bem longe de sua casa e de seus amores:
- lá na cidade, sinhora, obrigaram-me a ser quem nunca quis ser!
No infinito do meu olhar vi vários rostos reflectidos por detrás do espelho do mar!




Quem tem o direito de nos tornar quem nunca desejamos ser! 


quem nunca desejamos ser?

Friday, July 24, 2009

Pecado!

Sinto de longe o teu pecado, a penitência de querer livrar-me desta ansiedade, desta espera e fico assim a escutar o bater do teu coração como uma melodia que promete jamais terminar!
O meu corpo perde-se neste labirinto ao encontro do teu, e a única saída é deixar-me perder novamente, para que a tua alma reencontre o meu desejo e sinta a sensação de desfolhar cada ausência tua.
Entrego-me por inteira, aconchego-me a ti, neste ninho feito de sonhos e ilusões onde a angústia do eu se dissipa, o alívio de ser tua sem a mascara de outrora revelam-se de mil formas, existir apenas...descanso neste leito onde as emoções mergulham na tua existência, deslizo as tuas mãos delineando os meus seios que despertam para a vida ao sabor dos teus beijos, desenho os teus lábios em meus lábios como uma escultura que aniquila o silêncio e a sede...
De repente deixamos as marcas do nosso corpo no lençol, o cheiro da nossa pele flui no ar, a janela do quarto esta aberta, como se o vento suspirasse saudade, trancamos a porta mas esquecemos da chave em qualquer lugar, e sem despedidas caminhamos soletrando gemidos e colorindo a vida de vários tons...
Resta apenas a unicidade da nossa existência fotografada na memória de nosso olhar!

Monday, July 20, 2009

Tenho medo de escrever.
É tão perigoso.
Quem tentou, sabe.
Perigo de mexer no que está oculto -
e o mundo não está à tona,
está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar.
Para escrever tenho que me colocar no vazio.
Neste vazio é que existo intuitivamente.
Mas é um vazio extremamente perigoso:
dele arranco sangue.
Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras:
as palavras que digo escondem outras - quais?
Talvez as diga.
Escrever é uma pedra lançada no fundo do poço.
in Um Sopro de Vida
Clarice Lispector

Thursday, July 9, 2009

Explorei!

Explorei com tal ânsia a quietude da noite
Esculpi o teu rosto em todos os lugares que descobri onde o vazio reinava
Dei vida a essência da minha escultura, abri os olhos iluminando
A escuridão da minha alma e contornei os lábios ate a infinitude do meu sentir!
Fiz amor com a liberdade de quem sobrevoa o Oceano
E deixei-me levar tal um grão de areia em tuas mãos!
Fingi dores jamais sentidas e ultrapassei mágoas tatuadas em meu nome
Sublinhei com varias tonalidades as incompreensões da minha existência.
Abri a porta de uma casa ainda por construir, Deslizei os dedos pelas paredes que as tuas mãos cimentaram
Com a mestria de quem constrói o Universo
E no silêncio de cada pincelada li os teus pensamentos, revi a nossa história
Gravada em cada canto daquele lugar que aos poucos ganhava vida
Beijei com tal intensidade as palmas das tuas mãos,
Libertando o pó de quem passa horas executando o esqueleto de uma Vida
E vi o desenho do meu rosto nas janelas ainda por terminar
E neste instante construí a nossa história

Iluminando cada canto para que um outro alguém a amasse!


Direitos reservados - Naela

Sunday, July 5, 2009

Obrigada pelo carinho, um dia quem sabe estarei em cada abraço vosso!

É preciso permitir que alguém nos ajude,
nos apóie, nos dê forças para continuar.
Se aceitamos este amor com pureza e humildade,
vamos entender que o Amor não é dar ou receber - é participar.
(Paulo Coelho)

Regresso.....Palavras sentidas, oh tempo! Cheguei...