Tuesday, August 12, 2008

O Louco...


Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:
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Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”

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Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”

Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.

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Khalil Gibran

15 comments:

Borboleta said...

Isto é maravilhoso! Quando fui ao Líbano, conheci a cidade em que Gibran nasceu (se não me falha a memória, agora, Bsharri - uma aldeota, como tantas outras no minúsculo país: Kfaraêb, Gibrail, etc). O menino revelava dotes precoces de intelectualidade e, de fato, destacou-se nos Estados Unidos. Sua obra confronta Nietzsche com o Cristianismo, e num livro que tenho comigo, uma compilação (The Treasured Writings of Kahlil Gibran), ele revela que conheceu São Paulo - esta cidade onde ainda moro - e provavelmente travou algum contato com o Espiritismo Kardecista.
Wow, estendi-me demais, foi a emoção. Lembrei-me do Líbano, daquele sofrimento todo, do menino pobre que se fez no seio da nação que ainda hoje domina o mundo...
A mistura de texto e imagem, como de costume, neste blog que adoro, é maravilhosa.
Beijos, para lá de carinhosos, para lá de demorados, para lá de reverentes, para lá de aparvalhados, do Thiago

Vinícius Ghise said...

Li Temporais, de Khalil Gibran há uns cinco anos... Obrigado por me lembrar como são sabias suas sarlavras, sabias e Atemporais.

Voltarei aqui.


Bjão!

Dois Rios said...

Khalil Gibran e os seus escritos de profunda e simples beleza e espiritualidade.

As máscaras me lembraram um outro pensamento dele:

"Meu Amigo, não sou o que pareço. O que pareço é apenas uma vestimenta cuidadosamente tecida, que me protege de tuas perguntas e te protege da minha negligência."

Beijos,
Inês

Avid said...

Bela reflexao... da que pensar...
Bjs meus

O Profeta said...

Errantes sentires percorrem
Este corpo nu de calor
Queda-se a vontade ao vento
Neste deserto de verde amor

Ai este grito contido
É lava rubra em minha garganta
Pio de pássaro preso às penas
Uma reza a fugir de alma santa


Boas férias


Mágico beijo

Pelos caminhos da vida. said...

Olá Nela!

Sábias palavras.

uma boa tarde.


beijooo.

KImdaMagna said...

"Nem tudo o que é belo é bom, mas toda a bondade é bela".
Kahlil Gibran (1922)
Profeta /poeta


Xaxuaxo

vero said...

Olá querida amiga, passei num instantinho para te deixar um beijo enorme :)

Carol said...

Passando para dizer que estou conhecendo e adorando seu Blog!
Muito Bom! Parabéns!
Voltarei mais vezes!
Beijos!

Carol said...
This comment has been removed by the author.
RENATA CORDEIRO said...

Lindo ,a miga, é o mínimo que se pode dizer!
Tive que fazer outro post, pois aquele me trouxe um azar que vc nem imagina. Este é sobre um cult movie, dirigido pelo Nicolas Cage, com James Franco no papel principal. Passou despercebido no Brasil, talvez tenha feito sucesso na Europa, não sei. Apareça por aqui:
wwwrenatacordeiro.blogspot.com
Um abraço,
Renata Cordeiro

Daniel said...

Naela

O texto é deveras espectacular! Gostei especialmente dele.
Não tenho mais palavras, senão a de exprimir, parabéns!...
Beijinhos
Daniel

Anonymous said...

Olá Naela,

Este texto é wonderful.

Palavras sábias de um excelente autor.

Parabéns.

Beijinho

Renato

Carolina Rosf said...

brilhante. nada como o sol (H)
beijos ;*

Alessandra Castro said...

Palavras completamente reais. De tocar a alma.

Regresso.....Palavras sentidas, oh tempo! Cheguei...